domingo, 10 de fevereiro de 2008

O semeador da Galiléia superando métodos da educação moderna

Há duas maneiras de se fazer uma fogueira: com as sementes ou com um punhado de lenha. Qual maneira você escolheria? Fazer fogueira com uma semente parece um absurdo, loucura. Todos, certamente, escolheríamos a lenha. Entretanto, o mestre de Nazaré pensava a longo prazo, por isso sempre escolhia as sementes. Ele as plantava, esperava que as árvores crescessem, dessem milhares de outras sementes e, aí sim, fornecessem a lenha para a fogueira.

Se escolhesse a lenha, acenderia a fogueira apenas uma vez, mas como preferia as sementes, a fogueira que acendia nunca mais se apagava. Um dia ele comparou a si mesmo a um semeador que semeia no coração dos homens. Um semeador do amor, da paz, da segurança, da liberdade, do prazer de viver, da dependência recíproca.

Quem não consegue enxergar o poder contido em uma semente nunca mudará o mundo que o envolve, nunca influenciará o ambiente social e profissional que o cerca. Uma mudança de cultura só será legítima e consistente se ocorrer por intermédio das singelas e ocultas sementes plantadas na mente dos homens e não por intermédio da imposição de pensamentos.

Gostamos das labaredas instantâneas do fogo, das idéias - relâmpagos dos livros de auto-ajuda, mas não temos paciência e, às vezes, habilidade para semear. Um semeador nunca é um imediatista, presta mais atenção nas raízes do que nas folhagens. Vive a paciência como uma arte. Os pais, os educadores, os psicólogos, os profissionais de recursos humanos só conseguirão realizar um belo e digno trabalho se aprenderem a ser mais do que provedores de regras e de informações, mas simples semeadores.

Os homens que mais contribuíram com a ciência e com o desenvolvimento social foram aqueles que menos se preocuparam com os resultados imediatos. Uns preferem as labaredas dos aplausos e do sucesso instantâneo, outros preferem o trabalho anônimo e insidioso das sementes. O que preferimos? De nossa escolha dependerá a nossa colheita.

Cristo sabia que logo iria morrer, mas, ainda assim, não era apressado, agia como um inteligente semeador. Não queria transformar seus discípulos em heróis e nem exigia deles o que não podiam lhe dar; por isso, permitiu-lhes que o abandonassem no momento em que foi preso. As sementes que ele plantava dentro dos galileus incultos que o seguiam um dia germinariam. Tinha esperança de que elas criariam raízes no cerne do espírito e da mente deles e mudariam para sempre suas histórias.

Essas sementes, uma vez desenvolvidas, tornariam aqueles homens capazes de mudar a face do mundo. É incrível, mas este fato ocorreu. Eles incendiaram o mundo com os pensamentos e propósitos do carpinteiro da Galiléia. Que sabedoria se escondia no cerne da inteligência de Cristo!

Nietzsche disse há um século uma famosa e ousadíssima frase: “Deus está morto”*. Ele expressava o pensamento dos intelectuais da época, que acreditavam que a ciência resolveria todas as misérias humanas e, por fim, destruiria a fé. Provavelmente este intrépido filósofo achasse que um dia a procura por Deus seria apenas lembrada como objeto de museus e dos livros de história.

Os filósofos ateus morreram e hoje são esquecidos ou pouco lembrados, mas aquele afetivo e simples carpinteiro continua cada vez mais vivo dentro dos homens. Nada conseguiu apagar a fogueira acendida pelo semeador da Galiléia... Depois que Gutenberg inventou as técnicas modernas de imprensa, o livro que o retrata, a Bíblia, se tornou invariavelmente o maior best-seller de todos os tempos. Todos os dias, milhões de pessoas lêem algo sobre ele.

O mestre de Nazaré parecia ter uma simplicidade frágil, mas a história demonstra que ele sempre triunfou sobre aqueles que quiseram sepultá-lo. Aliás, o maior favor que alguém pode fazer a uma semente é sepultá-la. Jesus foi uma fagulha que nasceu entre os animais, cresceu numa região desprezada, foi silenciado pela cruz, mas incendiou a história humana.

O mestre deu um banho de inteligência na educação moderna. Ele provocou uma revolução no pensamento humano jamais sonhada por uma teoria educacional ou psicológica.

Há uma chama que se perpetua dentro daqueles que aprenderam a amá-lo e conhecê-lo. Nos primeiros séculos, muitos dos seus seguidores foram impiedosamente destruídos por causa desta chama.

Os romanos fizeram dos primeiros cristãos pastos para as feras e um espetáculo de dor nas batalhas ocorridas no Coliseu e, principalmente, no circu máximo. Alguns foram queimados vivos, outros mortos ao fio da espada. Todavia, as lágrimas, a dor e o sangue destes homens não destruíram o ânimo dos amantes do semeador da Galiléia; pelo contrário, tornaram-se adubos para cultivar novas safras de sementes.

Texto retirado do livro: Análise da Inteligência de Cristo
Autor: Augusto Jorge Cury